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Problemas durante a visita do Papa ao país, revelam a incapacidade do Brasil, em receber turistas para a Copa do Mundo e Olimpíadas.


Problemas durante a visita do Papa ao país, revelam a incapacidade do Brasil, em receber turistas para a Copa do Mundo e Olimpíadas.

RIO DE JANEIRO, 28 Jul (Reuters) - Problemas de organização durante a visita do papa Francisco ao Brasil, que colocaram o pontífice em risco e deixaram milhares de fiéis de várias partes do mundo sem transporte adequado, aumentaram as dúvidas sobre a capacidade do país para organizar a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016.
Até o prefeito da cidade deu ao Rio de Janeiro uma nota baixa pela organização da Jornada Mundial da Juventude, evento para jovens católicos que, neste domingo, último dia do encontro, atraiu mais de 3 milhões de pessoas para uma missa na praia de Copacabana.
"Está mais perto de zero do que de dez", disse o prefeito Eduardo Paes em entrevista na sexta-feira a uma rádio.
Esperava-se que grandes eventos no Brasil fossem uma vitrine de uma recente década de crescimento econômico no país e justificassem os ares de primeiro mundo que muitos de seus líderes assumem.
Mas a desaceleração do crescimento e a insatisfação com a corrupção, preços em alta e o mau estado dos serviços públicos estão levando muitos brasileiros a ver pouco mais do que ostentação por atrás de gastos excessivos.
No mês passados, manifestantes perturbaram o primeiro dos grandes eventos ao realizar manifestações em massa por todo o país durante a Copa das Confederações, torneio considerado um ensaio para o Mundial do ano que vem. Os protestos questionaram o gasto de bilhões de dólares em eventos esportivos, enquanto escolas, hospitais e o transporte público sofrem com falta de investimentos.
Agora, apesar de estenderem o tapete vermelho para Francisco, os brasileiros estão espantados com os problemas ocorridos durante sua visita. Visitantes de lugares tão distantes como Japão, Angola e Canadá enfrentaram longas filas, ônibus lotados, metrô com defeito e a incerteza sobre um evento que estava sendo organizado havia dois anos.
MAIS TENSÃO
"Só o papa salva" foi a manchete do jornal O Globo, no sábado, em referência ao carisma e à habilidade de Francisco de contornar uma falha da segurança logo após sua chegada, atrasos no transporte que excluíram milhares de fiéis de algumas de suas aparições e a mudança de última hora do local que seria o ponto alto do encontro, com uma vigília no sábado à noite e uma missa campal neste domingo, em consequência da chuva que provocou m lamaçal.
"Nós ainda não sabemos o que vamos fazer", disse Catharina Cabrera, de 22 anos, funcionária de um escritório em São Paulo que estava alojada com amigos em uma igreja da Pavuna, zona norte do Rio, mas, no sábado, vagava pela praia de Copacabana --para onde foi transferida a vigília-- e procurava um local para estender seu saco de dormir.
"Não sabemos se é melhor ir para Pavuna e depois voltar para a vigília, porque é difícil chegar lá com transporte público e é longe, tem muita gente. Se fosse em Guaratiba, para nós seria mais simples, mas Copacabana é muito difícil entrar e sair."
Especialistas em transporte, segurança e planejamento dizem que os problemas são decorrência da alta demanda junto com a burocracia e os problemas de infraestrutura e serviços públicos.
Tráfego pesado e mau tempo já provocam rotineiramente engarrafamentos no Rio. E se houve problemas durante o encontro de jovens católicos, imagine os riscos representados por torcedores movidos a álcool na Copa do Mundo, ou o desafio logístico de transportar espectadores e atletas para as competições olímpicas.
"Nunca existe uma maneira de controlar absolutamente tudo quando se tem tantas pessoas reunidas", disse o professor de urbanismo Christopher Gaffney, da Universidade Federal Fluminense (UFF), do Rio, que estuda a organização de grandes eventos em vários lugares. "O foco tem de ser em minimizar as possibilidades de que as coisas deem errado.'
No Rio, as autoridades procuraram minimizar os problemas ao declarar feriados públicos e isolar amplas partes da cidade durante a visita, reduzindo assim o tráfego para tudo que não estivesse relacionado às atividades do papa. Os feriados, também planejados para grandes eventos esportivos, têm sido criticados por moradores, que acusam a prefeitura de coibir boa parte da economia local para o benefício de um punhado de interesses envolvidos nos eventos.
MUITOS PROBLEMAS
Mesmo com feriados, muita coisa deu errado durante a semana. Na segunda-feira, quando Francisco ia do aeroporto para o centro da cidade, seu motorista entrou em uma via desprotegida, onde uma multidão de fiéis cercou o veículo e chegou perto da janela do carro tocar no papa. Embora o próprio pontífice parecesse se divertir com a situação, seus seguranças ficaram em desespero.
Na terça-feira, uma falha no funcionamento do metrô do Rio provocou o fechamento de todas as estações por mais de duas horas. O problema fez com que muitos visitantes perdessem a missa inaugural, em Copacabana.
No meio da semana, enquanto as chuvas desabaram sobre Guaratiba, bairro na zona oeste onde um altar gigante foi erguido em meio a um terreno de pastagens, Paes dizia que não havia planos de alterar o local da vigília de sábado e da missa deste domingo.
No entanto, na quinta-feira os organizadores mudaram os planos, reconhecendo que a lama e a chuva poderiam causar problemas de saúde, ferimentos e mesmo acidentes para legiões que teriam de viajar até lá.
A decisão, embora prudente, afetou os planos de milhares de pessoas e poderia ter sido evitada, dizem analistas, se, para começar, os organizadores tivessem escolhido um local mais adequado para a última missa. Moradores de Guaratiba, incluindo muitos que haviam investido milhares de reais em serviços para atender os fiéis, ficaram em apuros.
As autoridades do Rio ajudaram a vender a cidade para grandes eventos destacando a longa tradição de celebração de festividades como o Carnaval e a festa do Ano-Novo, que anualmente atraem, cada uma, mais de um milhão de pessoas para as ruas. Agora, contudo, as autoridades locais dizem que eventos internacionais requerem uma curva de aprendizado.
"Nós tivemos dois grandes eventos em seguida e aprendemos com os dois", disse José Monteiro, diretor da Secretaria Extraordinária de Segurança Pública para Grandes Eventos. Olhando para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, ele promete: "Nós estamos fazendo nossa lição de casa."
O australiano Ian Nanke, que participou da Jornada Mundial da Juventude em Sydney, em 2008, também procurava um lugar para dormir na praia de Copacabana, no sábado. Lembrando do evento em casa, ele diz que os peregrinos eram conduzidos para áreas específicas e havia transporte bem mais eficiente do que os trajetos de duas horas que eles tiveram de enfrentar para chegar aos eventos aqui.
"É difícil chegar na hora", diz ele. "Chame a isso de caos organizado."
(Reportagem adicional de Felipe Pontes)

Fonte: Reuters Brasil

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